TOCANTINS UM TERRITÓRIO DE VÁRIOS POVOS

Acompanhe a narração das Conquistas e Desafios dos Povos Indígenas no Tocantins com Thiago Costa

O Tocantins é o segundo estado do Brasil com o maior percentual de indígenas vivendo dentro de terras indígenas. Segundo o levantamento feito pelo Censo 2022, a percentagem é de 75,98%. O estado fica atrás apenas do Mato Grosso, com 77,39%.
O Brasil quase dobrou a população indígena em doze anos, aponta o “Censo 2022 Indígenas: Primeiros resultados”, divulgado pelo IBGE, em 2022. O levantamento mostra ainda que o país possui 1.693.535 indígenas. O número corresponde a 0,83% da população brasileira. 
Em 2010, o IBGE contou 896.917 pessoas indígenas, o que correspondia a 0,47% da população residente no país. A variação positiva de 2010 para 2022 é de 88,82% incluindo a coleta concluída na Terra Indígena Yanomami, dividida entre os estados de Roraima e Amazonas.
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-04/censo-registra-1652876-pessoas-indigenas-no-brasil
No Tocantins, segundo dados da pesquisa, há 20.023 indígenas, divididos nas nove etnias,  segundo dados do governo. 
A população pertencem às etnias: Karajá, Xambioá, Javaé (que forma o povo Iny) e ainda os Xerente, Apinajé, Krahô, Krahô-Kanela, Avá-Canoeiro (Cara Preta) e Pankararu. A preservação da língua e das tradições culturais varia conforme cada povo e histórico de sobrevivência.
A matéria vai apurar as condições de vida dos indígenas que moram nas aldeias e a programação que cada povo vai realizar neste dia.

O POVO XERENTE

Confira a programação da festado povo Xerente na aldeia Montes Belos em Tocantínia

*Origem e Ocupação* 

Os povos indígenas Xerente se autodenominam “AKWE” , termo que tem como significado de gente importante. Antes da chegada desses povos no Estado do Tocantins eles viviam nas terras secas do Nordeste do Brasil e evidentemente chegavam no estado Tocantins em busca de água e território. Atualmente vivem em reservas no município de Tocantínia que fica a cerca de 70 km da capital, Palmas. 

*Língua* 

A língua da etnia xerente pode ser chamada de “Akwén”, “Akwe” ou “Macro-jê”. É uma língua ou grupo de línguas pertencentes à família “jê”. A língua se divide em três dialetos: xavante (ativo), xerente (ativo) e xakriabá (extinta – em processo de resgate). As crianças de até cinco anos só falam a língua indígena. Os adultos a utilizam em todos os contextos da vida cotidiana nas aldeias. Apesar disso, falam fluentemente o português quando se faz necessário. No Tocantins, a língua é falada por cerca de 3.600 pessoas, mais especificamente na região de Tocantínia. 

*Cultura* 

Os Xerente se conectam profundamente com o cerrado, explorando-o por meio da caça, da coleta e de uma agricultura que complementa seu modo de vida. Para eles, o território é a base essencial de sua existência, e suas atividades cotidianas, como pesca, caça e coleta, refletem um conhecimento íntimo e respeitoso da natureza. 

Ao longo de sua história, os Xerente enfrentaram desafios e adversidades, mas emergiram com uma resiliência admirável. Eles reivindicaram seus direitos, fortaleceram sua cultura e aprenderam a interagir com não-indígenas, lutando por reconhecimento e respeito como seres humanos dignos. 

As práticas culturais dos Akwẽ-Xerente nos leva a uma reflexão profunda sobre a capacidade humana de adaptação e preservação de tradições em meio às transformações contemporâneas. 

*Dificuldades que ainda são enfrentadas no Meio Territorial, Econômico, Educacional, Saúde e Social* 

O ponto principal que ainda vem sendo enfrentado pelos povos indígenas Xerente são questões destacadas como, extração de madeira, incêndios na mata, caça e pesca irregular e invasão de marcos fazendeiros. 

Muitos grupos étnicos ainda passam por problemas relacionados à saúde. As doenças com maior incidência são verminoses, gripes, disenterias e outras. Devido a falta de serviços públicos e alimentação escassa. Ainda ocorre casos de Aids presente pela interétnicas que causa preocupação. 

Os Xerente são bem representados nas universidades Federais, tanto o povo Xerente como os demais povos indígenas vivenciam o desafio de ingressar nas universidades e de conseguir permanecer nos cursos superiores.

Muitos são os motivos que dificultam a permanência dos indígenas nas universidades e institutos federais entre eles estão a falta de moradia, a dificuldade na oralidade e da escrita na língua portuguesa, o que contribui para a evasão de muitos. A dificuldade de relacionamento com os não índios ainda é frequente.

Os Akwẽ-Xerente, vivem num embate constante entre tradição e modernidade, refletindo as complexidades das políticas indigenistas e dos projetos de desenvolvimento agrícola. Marcadas por ressignificações e resistências, essas comunidades enfrentam a exclusão social e cultural. 

Os povos indígenas após a Constituição Federal de 1988 assumem papéis ativos na sociedade, engajando-se em conselhos, ONGs e associações. Apesar dos desafios, eles persistem na busca por um diálogo que fortaleça o respeito à diversidade cultural e promova uma sociedade mais inclusiva.

POVO KRAHÔ TAKAWYRÁ

Entrevista com Davi Krahô

Em meio ao cerrado tocantinense, localizado no município de Lagoa da Confusão há 16 anos em uma área de preservação permanente (APP), vive a comunidade indígena Krahô Takaywrá. Com raízes na família linguística Jê, a língua também chamada Krahô, possui variantes de dialetos, um elo na preservação de seus conhecimentos e tradições.

No período de chuva, a aldeia Takawyrá sofre com as enchentes, crianças e idosos são desabrigados, os animais e as plantações são perdidas. O povo Krahô reivindica como outros povos a definição do seu território e a criação de uma reserva indígena, Krahô Takaywrá.

Davi Camoc Krahô:

A gente percebe que toda a questão da demarcação de terra precisa avançar mais, porque hoje a gente tem uma presidente da Funai, que é indígena, hoje a gente tem um ministério dos povos indígenas, mas que esse ministério dos povos indígenas possa ser mais atuante, não só dizer que temos só o ministério, no sentido figurado

Os Krahô vivem no nordeste do Tocantins, há aproximadamente três mil indígenas em 25 aldeias, ocupam uma área de 300 mil hectares. Conversamos com Davi Camõc Krahô, vice-cacique da comunidade do povo Krahô Takaywrá. Davi relata que apesar das dificuldades que seu povo enfrenta, “sentiu melhoria no governo atual em relação ao anterior e os processos que estavam travados estão em andamento”.

Davi informou que foi lançado um edital pelo governo em parceria com a Funai, que visa liberar recursos para a compra de  terras para que o povo possa ocupar o seu TI (Território Indígena). No momento, a aldeia espera o resultado que sairá daqui há um mês.

A terra indígena é o que assegura para os Krahô, a justiça social, a preservação, a valorização da cultura indígena e a preservação do meio ambiente.

“A gente percebe que toda a questão da demarcação de terra precisa avançar mais, porque hoje a gente tem uma presidente da Funai, que é indígena, hoje a gente tem um ministério dos povos indígenas, mas que esse ministério dos povos indígenas possa ser mais atuante, não só dizer que temos o ministério, no sentido figurado”, disse Davi. 

A luta para garantir direitos básicos como saúde e educação de qualidade ainda estão longe dos ideais que sonham os indígenas de todo o país, a busca é a construção de um futuro mais justo e inclusivo, acompanhe a entrevista de Davi Camoc Krahô.

Povo Karajá

Nicole Amaral, Ronny Amorim, Hellen Kíssila e Roberto Lira

Os Iny, também conhecidos como Karajá, são um grupo indígena que vive na região do rio Araguaia, abrangendo os estados de Goiás, Mato Grosso e Tocantins, no Brasil. Com uma história cultural enraizada que se estende por séculos, os Iny fazem parte do tronco linguístico macro-jê. 

No passado, os Iny levavam uma vida seminômade, sustentando-se principalmente da pesca, caça e agricultura. As aldeias eram compostas por ocas circulares feitas de palha e madeira, organizadas em torno de uma grande família liderada por um pajé, que era o líder espiritual e curandeiro. 

Com a chegada dos colonizadores europeus, os Iny enfrentaram mudanças radicais em seu estilo de vida devido a conflitos, doenças e pressões territoriais. Apesar disso, conseguiram manter muitos aspectos de sua cultura e identidade. 

Foto: Tarson Lopes

A arte Iny é notável, especialmente pelas belas cestarias, cerâmicas e pinturas corporais, frequentemente inspiradas na natureza e em crenças espirituais. A mitologia é rica em narrativas sobre a criação do mundo e dos povos, dos animais e seres sobrenaturais.

Hoje em dia, os Iny enfrentam desafios consideráveis na luta pela demarcação e proteção de suas terras tradicionais, bem como na preservação de sua língua e cultura diante das rápidas mudanças sociais e ambientais. Além disso, o acesso aos serviços essenciais como saúde e educação ainda é uma questão urgente para o povo Iny. Mesmo com os obstáculos, eles persistem e reafirmam sua identidade como um povo único e resiliente.

TRAJETÓRIA DO POVO JAVAÉ: HISTÓRIA E IDENTIDADE

Se autodenominam Itya Mahãdu, que significa “O povo do meio”, devido acreditarem viver em um nível intermediário do cosmos, situado entre o nível subaquático e inferior. 

Aldeia de Uariuari. Foto: SPI/IR de Goiás, 1912 

Os Javaés estão localizados às margens do rio Javaés, e assim como o rio de mesmo nome, possui origem nominal desconhecida. Assim como os karajás e xambioás, são falantes do dialeto dos karajás. Até o início do século XX, os Javaés mantiveram-se muito mais isolados da sociedade do que seus vizinhos Karajá e Xambioá. No entanto, entre si, as três etnias mantiveram um relacionamento próximo. 

Em comparação às pesquisas sobre Javaés e Xambioás, os Karajás sobrepõem-se em números. O que pode ser um dos fatores que levaram pesquisadores a classificarem os javaés e xambioás como subgrupos da etnia Karajás.

Os próprios Javaés ressaltam suas diferenças e enfatizam-se como um grupo único e diferente dos Karajás e Xambioás, e ofendem-se ao serem relacionados como um subgrupo Karajá. 

Eduardo R. Ribeiro (2001/2002), linguista antropológico, propôs que a língua Karajá subdividia-se em quatro dialetos: Karajá do sul, Karajá do norte, Javaé e Xambioá. 

Nas primeiras décadas do século XX, enquanto a população Karajá se estabilizava, os Javaés vivenciaram um processo de deslocamento territorial e sofreram grandes perdas populacionais. 

Devido ao contato cada vez mais próximo com os invasores do território Javaé, as novas doenças trazidas por pescadores, criadores de gados e agentes do Estado resultaram na morte da maioria da população e na extinção das aldeias. Os Karajás foram obrigados a abandonar suas aldeias e mudarem-se para as margens do rio Javaés, onde fundaram 50 aldeias. 

Em virtude de uma maior atuação do Estado na área da saúde e na busca pelo reconhecimento oficial de parte do território indígena, o grupo foi recuperando seu contingente populacional.

A VITALIDADE E A RESILIÊNCIA DOS ÃWA 

A luta do povo Avá-Canoeiro é secular, desde que o Brasil se constituiu como nação, a população indígena do país luta pela própria sobrevivência, mas das nove etnias catalogadas no Tocantins, o povo Avá-Canoeiro é um dos mais perseguido, e por isso mais propenso a extinção.

Atualmente as aldeias dos Avá-Canoeiro estão localizadas nos estados de Goiás e Tocantins. De acordo com o Instituto Socioambiental, no Tocantins todos os indivíduos já relacionados estão localizados no Posto Indígena Canoanã, no interior da Terra Indígena no Parque do Araguaia, na Ilha do Bananal, sudeste do estado.

Também popularmente conhecidos como “Cara Preta”, apelido esse que é relacionado ao imaginário popular devido às suas características fisiológicas antes do contato dos colonizadores, vivenciam uma luta contínua pela preservação tradicional e cultural do seu povo. 

Quem nasce e cresce na aldeia é chamado de “Ãwa”, palavra essa que no tupi-guarani significa indivíduo ou pessoa. Apesar dos esforços, os integrantes da tribo ainda não possuem a terra demarcada no Tocantins, vivem em áreas de outras tribos da região.

Escute a entrevista com Kamutaja Silva Ãwa

Kamutaja Silva Ãwa, presidente da associação do povo Ãwa, disse que “apesar de alguns avanços nos nossos direitos, a nossa luta atualmente está concentrada em conseguir demarcar uma região pro nosso povo, para que possamos retornar às nossas tradições de forma legal e pacífica”.

Kamutaja é uma jovem formada em Pedagogia pela Universidade Federal do Tocantins, e uma representante do povo Ãwa. Na conversa que tivemos, Kamutaja revelou que “temos recebido ameaças dos ocupantes dos territórios vizinhos”.

As ameaças que Kamutaja se refere estão relacionadas à perseguição de posseiros, que sempre ocorreu. A ocupação dos Avá no território, nas imediações da Ilha do Bananal é legal. “Estamos nesse processo de retomada de forma legal, buscando um lugar onde possamos preservar a nossa cultura e tudo que nos foi tirado todos esses anos”, finalizou. 

Na comemoração de 19 de abril, no Dia Nacional dos Povos Indígenas, histórias como a do povo Avá-Canoeiro são divulgadas não só para celebrar a data dos povos originários no Brasil, mas para que a preservação da existência, dos aspectos culturais, não sejam esquecidos.

Kamutaja Silva Ãwa informou, durante a entrevista que concedeu ao Calangopress, que desde que o presidente da república Luís Inácio Lula da Silva autorizou a demarcação de uma área de 31,4 mil hectares, localizada nos municípios de Minaçu e Colinas do Sul, no estado de Goiás, definida como território legal dos Avá-Canoeiro do estado, que o povo sofre ameaças.

No Tocantins o povoado que vive na região ainda aguarda por demarcação. Apesar do longo tempo de espera, ameaças e preconceitos, a tribo busca apagar o passado sombrio e escrever uma nova história, preservando as tradições e construindo escolas indígena, para que as crianças tenham língua própria, respeito à ancestralidade e vivam com respeito e segurança. 

Os indígenas isolados Ãwa da Mata do Mamão, na Ilha do Bananal (TO), estão cercados de perigos. Acesse o link e assista: https://www.facebook.com/SurvivalInternationalBrasil/videos/811631282978337.

Segundo a literatura histórica, os antigos “Canoeiro” da bacia do Rio Tocantins, preferiam a morte a se render ao inimigo e assim ficaram famosos como o povo que mais resistiu ao colonizador no Brasil Central, recusando-se terminantemente a estabelecer qualquer contato pacífico. https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Av%C3%A1-Canoeiro

APINAJÉ

Os Apinajé pertencem ao grupo dos Timbira Ocidentais e são conhecidos por terem uma estrutura social complexa, que inclui diversos cerimoniais e possuem aldeias com uma população relativamente grande.

Durante a segunda metade do século XX, enfrentaram uma significativa redução populacional e desorganização social. Tiveram o território invadido por centenas de famílias de migrantes e suas terras foram divididas por estradas como a Belém-Brasília e a Transamazônica.

As estradas contribuíram para a exclusão de parte do território tradicional Apinajé e na demarcação oficial das terras, que eles estão tentando recuperar.

Apinajé paramentado com cocar de penas de arara. Foto: Curt Nimuendaju, 1937. 

(Reprodução: https://pib.socioambiental.org/)

Dificuldades

A invasão do território Apinajé por migrantes, juntamente com a construção de estradas, desencadeou uma desestruturação social e uma redução significativa da população. A exclusão de parte do território na demarcação oficial das terras deixou os Apinajé em uma posição vulnerável em relação aos seus direitos territoriais.

Conquistas

Apesar das adversidades, o povo Apinajé recuperou parte de seu território, fortaleceram sua identidade cultural, ampliaram sua participação política e social, além de terem promovido o desenvolvimento comunitário em suas aldeias.

Principais Atividades

A agricultura de subsistência é a atividade principal do povo Apinajé, que se dedica à caça, pesca e coleta de frutas, plantas medicinais e palha. As roças seguem um sistema de consorciação de espécies, que inclui arroz, milho, mandioca, inhame, batata-doce, feijão, entre outros. Recentemente, receberam maquinários e implementos agrícolas para o cultivo de arroz em roças mecanizadas, o que gerou excedentes para a comunidade. 

Na caça, utilizam espingardas e, ocasionalmente, arco e flecha, que visam animais como veados, antas, tatus, pacas, entre outros. A pesca é realizada com anzol e linha, além da técnica da “tinguizada”, um tipo de pesca coletiva com o uso do tingui (planta tóxica que diminui o nível de oxigênio da água deixando os peixes “bêbados”).

A coleta de recursos naturais complementa a dieta e a produção doméstica. A demarcação de parte do território contribuiu para reduzir a dependência econômica externa, que abandonou o ciclo extrativista do babaçu como principal fonte de renda.

Nesta edição não conseguimos nenhum contato com um representante da etnia Apinajé. Na próxima postagem vamos trazer um pouco mais sobre os povos indígenas com a entrevista de Eliane Martins, do CIMI – Conselho Indigenista Missionário.

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