POTE DE OURO: Empreendedorismo e preservação cultural surgem do barro

Por Mireia Carvalho e Morgana Gurgel

No Distrito de Taquaruçu, localizado há 28,4 km de Palmas, pela BR 010 e TO 030, o artesão e guardião da história tocantinense, Wanderley Batista de Carvalho, de 42 anos, proprietário do Pote de Ouro Arts, mostra que o barro vai além das esculturas, serve para esculpir memórias e compartilhar tradições. 

Com o desenvolvimento do turismo na região, Wanderley viu uma oportunidade de renda ao entrelaçar suas habilidades artísticas com o legado cultural do estado, que é gerar recursos e estruturas de dinamizar a economia, estimulando o empreendedorismo.

O Pote de Ouro é uma casa de vivências que existe por e com o barro, que é tratado e manipulado até ser resignificado, se transformando em uma peça de artesanato, que além da utilidade recebe uma carga criativa, resultado de sentimentos, emoções, como se cada pessoa que passa pela experiência de manipulação do barro, entrasse num portal que transporta os visitantes através do tempo histórico.

Residência Pote de Ouro (Foto: Morgana Gurgel)

Para Wanderley, seu trabalho vai além de vender potes de barro; ele oferece um pedaço da história e da herança cultural da região. O artesão percebeu que as pessoas que sobem a serra não buscam apenas as cachoeiras e natureza, “as pessoas querem conhecer mais sobre a história do Tocantins, eu percebi que os turistas modernos buscam mais do que apenas atrativos naturais; eles querem conhecer e se conectar com a história e a cultura local”.

Essa forma de trabalho trouxe para ele e sua esposa, uma vida mais tranquila. “Nada mais prazeroso do que fazer o que você gosta de uma maneira que dá pra se sustentar”, comenta o artesão.

Mercado e ser humano

Foto: Mireia Carvalho: “”Tirar esse consumismo que tem dentro da cabeça da gente e ver o mundo de outra forma.” 

Foi durante a pandemia, que Wanderley passou a trabalhar com mais afinco com o barro, agregou às peças de barro que produzia, suas visões e incentivava as pessoas a refletir sobre o consumismo e a valorizar o que realmente importa na vida. Suas criações são mensagens poderosas sobre a felicidade e a simplicidade da vida.

Uma das peças mais significativas para o escultor é o homem que tem um vazio na cabeça, “eu fiz essa peça que é uma característica de uma pessoa mais simples, mais primitiva. Dentro da cabeça possui um espaço vazio, essa parte representa tirar um pouco do que a gente tem de conceito, de desejos que o mercado impõe, e isso acaba fazendo desejar coisas que não são de fato desejo seu. Acho que felicidade está ligada a coisas, mas felicidade é um sentimento, é interno.“, explica. 

Para Wanderley, cada peça produzida era uma representação dos tempos difíceis em que vivemos, onde não temos tempo para nada além de trabalhar. “Poucas pessoas tiram tempo para visitar um amigo, bater um papo, fazer viagens, fazer coisas que sejam prazerosas e ver que a vida é bacana demais pra você passar a vida inteira correndo atrás de coisas que não são suas“.

Pote de Ouro: Origem

O nome Pote de Ouro foi anunciado como um sonho. “Pote de Ouro foi uma inspiração, já que o distrito de Taquaruçu ser muito rica em minérios, e como os primeiros habitantes não tinham tanta ganância por poder e ouro, eles pegavam esse ouro e colocavam dentro do pote e esquecem, assim, morriam e o pote ficava enterrado.

Aí as pessoas mais honestas recebiam a localização desses potes de ouro em forma de sonhos. E como a gente trabalha com essas histórias do lugar, com a tradição de repassar histórias, as pessoas chegam brincando perguntando se ainda tem um pote de ouro por aí, e aí fica no ar. Mas o ouro que a gente fala que tem aqui são essas histórias, essa herança na história tocantinense“.

Wanderley Batista de Carvalho

O artesão fala com orgulho sobre seu trabalho, e diz que espera continuar a trabalhar ainda por bastante tempo com sua matéria-prima. “Aqui a gente não só vende potes de barro, a gente vende um pouco da nossa história, a gente conta a nossa história e esse é o valor que temos no nosso trabalho“, finaliza.

Assim, Wanderley Batista não apenas empreende com o artesanato em barro, mas também preserva e compartilha a rica história e cultura do Tocantins, e inspira outros a valorizar sua herança cultural e a repensar seus valores e prioridades na vida.

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